A obra “ABC da literatura” (ABC of reading) de Ezra Pound visa trazer à luz, para o deleite daquelas que verdadeiramente procuram saber como se dever estudar poesia, sua visão crítica de como fazê-lo através do método circundado em “How to read” (como ler).
Segundo o autor a tendência a abstração de valores, e de sentidos, isto é, conceitos metafísicos gradativamente mais genéricos que teria tido início na Idade Média, na ausência de uma ciência material, conduz o entendimento a um campo inalcançável ao interlocutor. Esse método é classificado como inadequado pelo autor.
Nesta obra o autor prima por uma abordagem científica, prática e objetiva do objeto a ser estudado, Isto é, despir a poesia de tudo que não for essência pura, isso implica em abandonar qualquer coisa que possa desviar a atenção impedindo que haja um julgamento correto e preciso. Pound ilustra seu ponto de vista citando “A história de Agassiz e do peixe” (a qual batiza como o nascer da ciência moderna) e “O ensaio sobre os caracteres gráficos Chineses” de Ereste Fenollosa.
Para exemplificar o quanto a prática é insubstituível no processo de produzir conhecimento o autor vale-se da comparação entre o assistir a dois concertos e a leitura de uma crítica musical, como se instigando o leitor a se perguntar, qual a melhor forma de se obter um conhecimento realmente consistente, e sobre tudo, não somente reverberado. Seguindo a linha do pensamento científico, o autor ainda cita como exemplo hipotético a emissão de um cheque, cujo valor fosse muito alto e a emissão de conhecimento; de quem você aceitaria, de um desconhecido ou de alguém respaldado? Já visando à apresentação de sua lista de leitura que considera como indispensável para se saber o valor de um novo livro.
Obviamente trata-se de um olhar positivista sobre a produção poética. Todavia, penso que a poesia não pode ser tratada como objeto de estudo científico, dissecada, cortada e posta em lâminas como em estudos de Botânica.
Mesmo sabendo que o método científico é atualmente o meio respaldado de produção de verdade, e já o é a bastante tempo, penso que tal abordagem poderia se dar perfeitamente na prosa , cito: “não se pode falar da origem de um fenômeno, seja ele qual for, antes de descrevê-lo (...)”;”porque falar de gênese sem dar uma atenção especial ao problema da descrição (...) é completamente inútil “;”Da exatidão da classificação depende a exatidão do estudo posterior”. (Vladimir I. Propp. Morfologia do Conto Maravilhoso- pg.9), contudo, o mesmo não se aplica á poesia.
Segundo Octavio Paz (poeta, ensaísta, tradutor e diplomata mexicano) em O Arco e a Lira: “o ritmo se dá espontaneamente em toda forma verbal, mas só no poema se manifesta plenamente (...);” pela violência da razão, as palavras se desprendem do ritmo; essa violência racional sustenta a prosa”; ”Deixar o pensamento em liberdade, divagar, é regressar ao ritmo; as razões se transformam em correspondências; os silogismos em analogias e a marcha intelectual em fluir de imagem.”; “A poesia ignora o progresso ou a evolução a suas origens e seu fim se confundem com as da linguagem. A prosa que é principalmente um instrumento de crítica e análise, exige uma lenta maturação e só se produz após uma longa séries de esforços tendentes a dominar a fala”.
Baseado nesses pensamentos eu digo que a poesia, de forma alguma pode ser esquadrinhada por meios científicos, pois ela é um universo composto por infinitos elementos alheios a essa ótica.
Encerro citando mais uma vez Octavio Paz: “O poema (...) apresenta-se como um universo auto-suficiente e no qual o fim é também um princípio que volta, se repete e se recria.”.
MARCO ANTONIO DIAS DA SILVA
ABC da Literatura: Como estudar Poesia.
Universidade Federal do Pará
Belém-Pará
2010
MARCO ANTONIO DIAS DA SILVA
ABC da Literatura: Como estudar Poesia.
Resumo crítico á disciplina Teoria do
Texto Poético, sob a orientação da
profª. ,(...), como requisito
para a obtenção da 1ª avaliação da
referida disciplina do curso de Letras
Hab. Língua Inglesa de Universidade
Federal do Pará.
UFPA
Belém-2010
POUND, Ezra. ABC da Literatura; organização e apresentação da edição brasileira Augusto de Campos; tradução de Augusto de Campos e José Paulo Paes. – 11ª. Ed.- São Paulo. Cultrix,2006.
Referências
POUND, Ezra. ABC da Literatura; organização e apresentação da edição brasileira Augusto de Campos; tradução de Augusto de Campos e José Paulo Paes. – 11ª. Ed.- São Paulo. Cultrix,2006.
PAZ, Octavio. Verso e prosa in O arco e a lira. Rio de Janeiro: 2a ed. Nova Fronteira, 1982.
PROPP, Vladimir. Morfologia do conto maravilhoso. (...). 1928.
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